segunda-feira, 11 de maio de 2009

O Nefasto BC

Muito se fala e se articula na nossa mídia sobre a política de juros que o Banco Central do Brasil vêm adotando nos últimos anos e, sobretudo nos últimos meses (de crise).
As reclamações parecem ecoar em uníssono: A taxa Selic está muito alta! Esses juros altos travam a economia!

Mas são como gritos no deserto que ecoam sem encontrar quem os ouça!
Mas porque será que é assim?
Porque o BC não atende às reivindicações dos mais variados setores da nossa economia (desde altos industriais a pequenos comerciantes)?

Para entender isso é necessário entender a estrutura que compõe essa instituição.
O Banco Central do Brasil foi criado em 1986 em substituição à antiga SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito) para ser um organismo econômico-financeiro ligado ao Ministério da Fazenda unificando as atribuições de três instituições diferentes: a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), o Banco do Brasil e o Tesouro Nacional.
Em suma: o BC é o Banco dos Bancos. Ele que aplica as políticas financeiras desenvolvidas (em tese) pelo Ministério da Fazenda e entre essas atribuições à de estabelecimento da taxa de juros (a taxa Selic) além de outras (ver link).

A taxa de juros é definida mediante as reuniões (oito em um ano) do Comitê de Política Monetária (Copom).
O Comitê de Política Monetária é um órgão do Banco Central e tem como objetivo estabelecer as diretrizes da política monetária e de definir a taxa básica de juros.
O Copom é composto pelos oito membros da Diretoria Colegiada do Banco Central e é presidido pelo presidente da autoridade monetária (Henrique Meireles). Também integram o grupo de discussões os chefes de departamentos, consultores, o secretário-executivo da diretoria, o coordenador do grupo de comunicação institucional e os interesses escusos dos grandes bancos privados.

O problema todo está no funcionamento.
O BC que foi criado como um meio político-governamental de se regular as atividades e as políticas financeiras do pais acaba por funcionar exatamente ao contrário.
Onde havia de ter uma sobreposição do poder político aos interesses privados ocorre justamente o contrário, ou seja, os grandes bancos e o capital financeiro que deveriam ser regulados pelo BC regulam o mesmo.
Não é o Banco Central, que deveria ser o representante do interesse público já que está vinculado ao Ministério da Fazenda, que dita as regras da nossa economia, mas sim os interesses privados por trás da política realizada pelo Ministério da Fazenda que o faz.

O BC não é o braço governamental dentro dos bancos privados, mas os bancos privados é que usam o BC como braço para entrar dentro da esfera política. O Estado Brasileiro é que é contaminado por esses abjetos interesses dos grandes bancos!

Resultado: Temos a maior taxa de juros do mundo, que acarreta entraves econômicos e produtivos no país em prol do lucro dos que possuem títulos de dívida pública (os grandes bancos privados) sobre os quais incidem os mesmos juros estabelecidos pelo Copom.

A partir daí é possível entender como foi possível os grandes bancos brasileiros realizarem a façanha de mesmo com a crise econômica obterem lucros exorbitantes, ultrapassando a cifra dos bilhões, enquanto ao mesmo tempo o país estava a beira de entrar numa recessão econômica.

A desculpa dada por esses senhores que compões o BC nos últimos meses é um afronte à inteligência alheia, pois dizem eles: “Não baixamos mais os juros com medo que isso acarrete num aumento inflação”, quando todos os prognósticos feitos pelos mais competentes institutos de pesquisa econômica do Brasil demonstram que a nossa inflação está controlada e não tem a tendência a subir por hora.
Essa política “conservadora” de não baixar juros por medo da inflação não passa de desculpa esfarrapada que esconde por trás dela toda uma podridão de um sistema regulador da atividade financeira corrompido pelos interesses privados.

Se os juros fossem baixados drasticamente (como querem os mais variados setores da nossa economia) os lucros dos bancos privados (detentores dos títulos de dívida pública) cairiam também drasticamente, mas em contrapartida haveria um aumento da atividade econômica alavancada pelos baixos juros que facilitariam o financiamento, desencadeando um ciclo virtuoso onde a economia brasileira só sairia ganhando.

Mas no mundo real, no mundo onde os interesses privados se sobrepõe aos públicos, onde ocorrem por debaixo dos tapetes ministeriais e governamentais as mais diversas maracutaias e imoralidades administrativas, uma política que só faria bem a saúde econômica do Brasil não é realizada porque prejudicaria uma meia dúzia de banqueiros.

Por essa e outras (como a falta de investimento público em certos setores) que temos um crescimento tão pífio quando comparado aos demais países emergentes (Bric’s), por essa e outras que o Brasil rasteja, rasteja e não cresce conforme o seu potencial.

É lamentável, mas é a pura realidade!

Links de interesse:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_Central_do_Brasil
http://www.bcb.gov.br/?SOBREBC
http://www.bcb.gov.br/?COPOMHIST
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL428580-9356,00-BRADESCO+TEM+MAIOR+LUCRO+ENTRE+BANCOS+PRIVADOS+DE+CAPITAL+ABERTO+EM+ANOS.html
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2009/03/20/tres-bancos-brasileiros-estao-entre-os-cinco-mais-lucrativos-das-americas-diz-economatica-754921239.asp

Um comentário:

Ligia Kulaif disse...

Mas é sempre mto fácil justificar a questão dos juros em cima da inflação. Brasileiro tem pavor só de ouvir essa palavra e já aceita de cara essas taxas altas.
Acho que agora, dps de ler esse post, eu aprendi alguma coisa de econômia haha
Beijo!