domingo, 28 de setembro de 2008

Democracia brasileira: Sui generis

Muito se fala sobre a conquista do direito de voto alcançado pelos que lutaram contra a ditadura e pró-diretas já. Mas será que a democracia que eles sonharam é a que se realiza atualmente no Brasil?

Temos um sistema eleitoral idiotizante e antidemocrático, onde numa eleição basta ser conhecido ou “famoso” para pleitear um cargo ao invés de ser exigido um mínimo de conhecimento e competência na prática política.

Pela quantidade de candidatos que temos torna-se impossível um debate amplo (democrático) e a comparação de propostas (principalmente no que tange os cargos legislativos) durante a campanha eleitoral. Não só o modelo eleitoral está errado como os partidos também o estão, por permitirem certas candidaturas que beiram o ridículo (quando não são ridículos por inteiro), além tomarem o tempo de algum candidato sério que ouse querer expor suas propostas.
Não se trata de limitar ou cercear candidaturas, mas seria sensato selecionar para aumentar o nível das propagandas e dos debates.

Quanto à escolha “democrática” em si, nós eleitores nos vemos como num cassino, pois não raro, muitos votam num candidato (principalmente no segundo turno) em que identificam como o “menos pior” ou então (o que é pior) “para o outro não ganhar”.
Ora, partindo-se do princípio que a democracia é a forma de governo que prioriza a representatibilidade, que representantes teremos ao eleger um candidato embasado nessa lógica burra e absurda? Sinceramente não me sinto representado!

O segundo turno, no meu ponto de vista, talvez seja o caso mais nefasto existente na nossa “peculiar” democracia.
Ocorre uma verdadeira venda de apoios e coligações em que a moeda de troca é invariavelmente cargos ministeriais ou secretarias do candidato então eleito. Trocando em miúdos, troca-se apoio na eleição por cargos dados não ao mais capacitado nem ao que o partido ou a pessoa eleita deposite maior confiança, mas aos senhores sanguessugas do Estado que melhor tiverem lábia para consegui-lo.
Perde-se em competência e capacidade administrativa e o que é pior, integridade do programa partidário, pois nesses moldes sempre teremos na composição do governo indesejados intrusos provenientes de acordos escusos.
Não podemos simplesmente acabar com o segundo turno, pois nenhum candidato ao executivo pode ser eleito com menos de 50% mais um voto, mas é totalmente viável a proibição de tais alianças ou o impedimento que afiliados de outros partidos que não o situacionista ocupem tais cargos.

Saídas?

Primeiro a reforma política (que é prioridade de todo presidente, senador e deputado federal quando se elege), que não sai do papel pelo fato de o “status quo” estar perfeito para a reprodução das incompetências, mentiras, roubos e outras atividades ilícitas que os nossos representantes tanto gostam.
Não vejo meio de essa reforma sair se não por uma pressão pública (não só nas eleições), em que têm importância crucial a imprensa (que só se interessa pelos factóides e imediatismos da nossa vida política em prejuízo do longo prazo e do que realmente importa) como catalisadora do processo.
Infelizmente não vivemos mais num país onde alguns setores sociais são politizados. Hoje impera a ignorância, o descaso e o vil analfabetismo político. “Por culpa dos políticos” diz a unanimidade em coro, mas como já dizia Nelson Rodrigues “Toda unanimidade é burra”, pois quem elege e depois não cobra, não acompanha ou faz vista grossa para ações ímprobas são os eleitores.

Saudade do país das passeatas, das manifestações, dos caras pintadas e da juventude engajada!

Outra medida salutar seria a extinção do voto obrigatório que faria com que os candidatos elevassem o nível das discussões e da campanha, debatendo propostas e não tanto a pessoa do candidato concorrente. Eles se veriam na necessidade de ter que realmente convencer o cidadão que vale a pena votar.

Finalmente a falta de senso crítico e de análise do brasileiro, somado ao seu baixo desenvolvimento intelectual, fazem de nós meros títires nas mãos de uma imprensa inescrupulosa e mais interessada no bem privado que no público que, em consequência disso, molda os seus ávidos consumidores de acordo com os preceitos que lhes interessam.
Portanto educar é preciso, formar cidadãos através de uma educação pública, abrangente e de qualidade é preciso.

Seria essa a democracia que os seus heróis queriam?