segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Paranóia Suína

De algumas décadas para cá, constantemente tem havido uma ampla disseminação de novas doenças, causadas por uma geração nova de bactérias e vírus, nunca antes vistos pelo homem. Um fato que interliga todas essas doenças é de curiosamente todas terem sido inicialmente detectadas em animas antes de serem transmitidas ao homem. É o caso das gripes aviária e suína, do mal da vaca louca entre outras.
A origem de tudo isso infelizmente é ainda pouco divulgado (mas já conhecida), talvez pelo perigo que causariam certas informações se fossem amplamente disseminadas.

Tomando como exemplo o mal da vaca louca, é sabido que uma determinada proteína (Príon), produzida através de uma mutação genética, causou essa doença. Mas indo mais fundo e buscando saber o que causou essa mutação, descobrimos que foi nada mais nada menos que a ração que o animal ingere. Esta ração, pasmem, feita para bovinos é feita de restos dos mesmos. Ou seja, utilizam-se de restos de vacas e bois mortos (não é muito suspeitar que alguns mortos por doenças) para alimentar os animais vivos que servirão futuramente de alimento. Não bastasse o canibalismo bovino que já deve ter isoladamente sérias conseqüências para o organismo do animal, esse fato ainda soma-se a “cavalar” quantidade de hormônios e antibióticos que os animais ingerem (e não se enganem, ao comermos a carne destes animais ingerimos também os mesmos hormônios e antibióticos que estes possuíam na sua carne), causando a mutação que acabou por criar essa nova doença, o mal da vaca louca, que causou tanto temor no mundo.

Atualmente o animal e a doença são outros, mas não é muito suspeitar que a causa de tudo isso seja a mesma, já que todos os animais que são criados destinados ao abate passam invariavelmente pelo mesmo tipo de tratamento alimentar e invariavelmente uma imensa dose de crueldade física, típica da mente sádica humana que se esquece que estes seres tratam-se de vidas não de simples produtos ou mercadorias que tem por finalidade apenas duas funções: alimentação humana e lucro.

Mas esse post não é de cunho biológico, mas sim político.
Visto o enorme alarde que se esta sendo dado a nossa mais nova epidemia, a gripe suína, é importante questionar alguns pontos:

Primeiro, porque tamanho alarde se essa nova gripe comparativamente à gripe comum tem índice de mortalidade até inferior? Pra que esse sensacionalismo midiático, que ao invés de ajudar somente atrapalha, causando pânico nas pessoas que acabam por superlotar os hospitais e postos de saúde tornando ainda pior o nosso sistema de saúde pública, e em decorrência disso, causando indiretamente inúmeras mortes por falta de atendimento, mau atendimento ou falta de tratamento?

Começo a imaginar que o problema do número elevado de óbitos por causa do “tão temido” Influenza A (H1N1), tem sua origem muito mais nos problemas sócio-políticos dos países afetados do que na “potência” do vírus propriamente dita, pois é sabido que países pobres têm invariavelmente um sistema de saúde pública de péssima qualidade, e que com esse gigantesco alarde midiático torna-se pior ainda, pois acarreta uma maior superlotação, pior atendimento e diagnóstico e em conseqüência, tratamento. Curioso que, em comparação, são raríssimas as pessoas com acesso a um sistema de saúde melhor do que o público que chegam a óbito por causa dessa virose.

Não seria melhor então que cada um cumprisse o seu papel, ou seja, a mídia informasse ao invés de desinformar e criar pânico, o Estado melhorasse o sistema de saúde pública, criando mais vagas, melhorando o atendimento, tornando acessível à população pobre os avanços tecnológicos da medicina, sem esquecer de melhorar inclusive o salário dos profissionais desta área que por vezes são obrigados a trabalhar em turno dobrado ou triplicado por causa da sua baixa remuneração o que acaba por afetar a qualidade do atendimento oferecido por esse profissional. Mas não nos esqueçamos da origem de tudo isso: a criação de animais para abate. Será que não é possível que seja mais bem regulada, inspecionada, humanizada (se é que isso é possível) e que sejam proibidas certas praticas comuns hoje no tratamento por sua crueldade e possível dano à saúde animal e humana?

Suponho que o homem seja sim capaz de fazer isso, mas existe uma lógica que o atrapalha e impede de fazer isso: a lógica de mercado, a lógica de competição e lucro, que faz com que a imprensa seja sensacionalista para vender mais e obter maiores lucros, fazendo com que a indústria farmacêutica também fature alto com a mais nova doença do “mercado” (já que foi criada uma ampla demanda dos seus medicamentos, tendo por pano de fundo o alarde midiático e a paranóia generalizada que foi então criada); que faz a criação animal ser tão nojenta e sádica em prol de maiores lucros, pouco se importando com as conseqüências físicas (para o animal e para o homem) e sociais daquilo e, por fim, o jogo de interesses políticos que faz com que o Estado não invista em certos setores chave como a saúde, jogando-o para uma privatização que se traduz em um “cada um por si”, pois quem pode pagar por um sistema de saúde decente, que pague e viva, quem não pode, que morra na porta de um hospital público ou de um posto de saúde.


Vídeo muito bom que mostra os nojentos interesses da indústria farmacêutica no pânico generalizado que foi criado em torno da gripe suína:
http://www.youtube.com/watch?v=CcgCBiyGljM

Filme Terraqueos (Earthlings) que mostra a desumanidade do ser humano no trato dos animais, o que pode explicar muito sobre as doenças nascidas nesses seres, por consequência dos maus tratos e da crueldade que por fim, passam para nós humanos:
Baixe aqui
Assista aqui ou aqui.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O Nefasto BC

Muito se fala e se articula na nossa mídia sobre a política de juros que o Banco Central do Brasil vêm adotando nos últimos anos e, sobretudo nos últimos meses (de crise).
As reclamações parecem ecoar em uníssono: A taxa Selic está muito alta! Esses juros altos travam a economia!

Mas são como gritos no deserto que ecoam sem encontrar quem os ouça!
Mas porque será que é assim?
Porque o BC não atende às reivindicações dos mais variados setores da nossa economia (desde altos industriais a pequenos comerciantes)?

Para entender isso é necessário entender a estrutura que compõe essa instituição.
O Banco Central do Brasil foi criado em 1986 em substituição à antiga SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito) para ser um organismo econômico-financeiro ligado ao Ministério da Fazenda unificando as atribuições de três instituições diferentes: a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), o Banco do Brasil e o Tesouro Nacional.
Em suma: o BC é o Banco dos Bancos. Ele que aplica as políticas financeiras desenvolvidas (em tese) pelo Ministério da Fazenda e entre essas atribuições à de estabelecimento da taxa de juros (a taxa Selic) além de outras (ver link).

A taxa de juros é definida mediante as reuniões (oito em um ano) do Comitê de Política Monetária (Copom).
O Comitê de Política Monetária é um órgão do Banco Central e tem como objetivo estabelecer as diretrizes da política monetária e de definir a taxa básica de juros.
O Copom é composto pelos oito membros da Diretoria Colegiada do Banco Central e é presidido pelo presidente da autoridade monetária (Henrique Meireles). Também integram o grupo de discussões os chefes de departamentos, consultores, o secretário-executivo da diretoria, o coordenador do grupo de comunicação institucional e os interesses escusos dos grandes bancos privados.

O problema todo está no funcionamento.
O BC que foi criado como um meio político-governamental de se regular as atividades e as políticas financeiras do pais acaba por funcionar exatamente ao contrário.
Onde havia de ter uma sobreposição do poder político aos interesses privados ocorre justamente o contrário, ou seja, os grandes bancos e o capital financeiro que deveriam ser regulados pelo BC regulam o mesmo.
Não é o Banco Central, que deveria ser o representante do interesse público já que está vinculado ao Ministério da Fazenda, que dita as regras da nossa economia, mas sim os interesses privados por trás da política realizada pelo Ministério da Fazenda que o faz.

O BC não é o braço governamental dentro dos bancos privados, mas os bancos privados é que usam o BC como braço para entrar dentro da esfera política. O Estado Brasileiro é que é contaminado por esses abjetos interesses dos grandes bancos!

Resultado: Temos a maior taxa de juros do mundo, que acarreta entraves econômicos e produtivos no país em prol do lucro dos que possuem títulos de dívida pública (os grandes bancos privados) sobre os quais incidem os mesmos juros estabelecidos pelo Copom.

A partir daí é possível entender como foi possível os grandes bancos brasileiros realizarem a façanha de mesmo com a crise econômica obterem lucros exorbitantes, ultrapassando a cifra dos bilhões, enquanto ao mesmo tempo o país estava a beira de entrar numa recessão econômica.

A desculpa dada por esses senhores que compões o BC nos últimos meses é um afronte à inteligência alheia, pois dizem eles: “Não baixamos mais os juros com medo que isso acarrete num aumento inflação”, quando todos os prognósticos feitos pelos mais competentes institutos de pesquisa econômica do Brasil demonstram que a nossa inflação está controlada e não tem a tendência a subir por hora.
Essa política “conservadora” de não baixar juros por medo da inflação não passa de desculpa esfarrapada que esconde por trás dela toda uma podridão de um sistema regulador da atividade financeira corrompido pelos interesses privados.

Se os juros fossem baixados drasticamente (como querem os mais variados setores da nossa economia) os lucros dos bancos privados (detentores dos títulos de dívida pública) cairiam também drasticamente, mas em contrapartida haveria um aumento da atividade econômica alavancada pelos baixos juros que facilitariam o financiamento, desencadeando um ciclo virtuoso onde a economia brasileira só sairia ganhando.

Mas no mundo real, no mundo onde os interesses privados se sobrepõe aos públicos, onde ocorrem por debaixo dos tapetes ministeriais e governamentais as mais diversas maracutaias e imoralidades administrativas, uma política que só faria bem a saúde econômica do Brasil não é realizada porque prejudicaria uma meia dúzia de banqueiros.

Por essa e outras (como a falta de investimento público em certos setores) que temos um crescimento tão pífio quando comparado aos demais países emergentes (Bric’s), por essa e outras que o Brasil rasteja, rasteja e não cresce conforme o seu potencial.

É lamentável, mas é a pura realidade!

Links de interesse:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_Central_do_Brasil
http://www.bcb.gov.br/?SOBREBC
http://www.bcb.gov.br/?COPOMHIST
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL428580-9356,00-BRADESCO+TEM+MAIOR+LUCRO+ENTRE+BANCOS+PRIVADOS+DE+CAPITAL+ABERTO+EM+ANOS.html
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2009/03/20/tres-bancos-brasileiros-estao-entre-os-cinco-mais-lucrativos-das-americas-diz-economatica-754921239.asp

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Abemos Obama!

É impressionante como a grande mídia trata da eleição/posse do presidente estadunidense Barak Obama. Parece que essa pessoa foi eleita presidente do planeta e não apenas de um dos países mais detestáveis e detestado do mundo.
Como se não bastasse reduzir o mundo à mera esfera de influência dos EUA, as expectativas que colocam em cima dele fazem-no parecer um semi-deus.

Mesmo que isso fosse realidade, é preciso antes lembrar que num regime político republicano, as decisões do poder executivo não tem fim em si mesmas, ou seja, não dependem só do senhor semi-deus e presidente do mundo Barak Obama. Elas passam também pelo crivo do legislativo (o congresso estadunidense), onde se acotovelam democratas (situação) e republicanos (oposição).
Caso não raro, o congresso estadunidense é tão sujo quanto o seu irmão tupiniquim. Basta lembrar do episódio onde o Sr. Bush para conseguir liberar 700 milhões de dólares para dar liquidez à sua economia, já em crise, teve que negociar e dar benesses para os seus nobres deputados e senadores em troca da aprovação do pacote.

Além do congresso, nos EUA existe um 4º poder, que age paralelamente aos demais e por vezes (para não dizer na maioria das vezes) se sobrepõe a eles. Trata-se dos lobys e corporações que dominam a economia e política estadunidense, e, por vezes mundial.
Essa última instância de poder faz do legislativo daquele país uma simples marionete, vendendo-lhes seus interesses e manobrando-lhes da maneira que bem lhes aprouver, maquiavelicamente falando. Tão forte são essas corporações e lobys que até mesmo o executivo se ajoelha a eles (como dizia uma velha piadinha política: a diferença entre um democrata e um republicano está na velocidade com que se ajoelham aos lobys) dado seu gigantesco poder de persuasão, invariavelmente econômica, mas também política.

Difícil acreditar que uma só pessoa, como se fosse um messias, vá resolver todos os problemas do mundo, ou quiçá os problemas do seu país! Primeiro ele terá que dizer com qual milagre conseguirá passar por cima dos interesses escusos que dominam a política dos EUA, para tratar dos interesses reais da população comum do seu país que o elegeu.
O ópio da nossa “amável” imprensa, e não só a brasileira, tem contaminado demais as pessoas que parecem viver num conto de fadas, como se a partir da posse de Obama, todos os problemas possíveis e imagináveis dos EUA e do mundo serão findos. Ledo engano!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Humanos Direitos???

Neste ano de 2008 completam-se 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Os Direitos Humanos provém na cultura ocidental dos chamados “direitos naturais” do homem. É possível encontrar em Platão, Aristóteles e Heráclito, que com o Direito Natural pregavam que todos os seres humanos nasciam com determinados direitos inerentes à natureza, alguns dos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que neste 10 de dezembro completou 60 anos.

O primeiro documento que reconhece explicitamente os direitos naturais é o "Bill of Rights", declaração de direitos inglesa, proclamada em 1689. O grande avanço desta Carta é a extinção do direito divino dos reis e a idéia do “freeborn englishmen” (inglês livre por nascença). Embora reconheça as liberdades naturais dos ingleses, ela exclui todos os outros povos.

Em 1789 é dado um grande passo para a universalização dos direitos durante a Revolução Francesa, quando a Assembléia Nacional declara os Direitos do Homem e do Cidadão, válida para todos os indivíduos. Porém essa Declaração, na prática, não garantiu de fato todos os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem.

Estes documentos são a base da Declaração dos Direitos Humanos de 1948, fortemente influenciado pelo horror e violência da primeira metade do século, sobretudo pelas atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. A Declaração estende a igualdade a todos os humanos, incluindo direitos nos campos econômicos, sociais e culturais. Porém ainda estamos muito longe de universalizar esses direitos.

Críticas

Atualmente, os direitos humanos são erroneamente criticados, atacados por um típico discurso que todos nós já ouvimos pelo menos alguma vez na vida: “direitos humanos para humanos direitos”, como se houvesse seres superiores e inferiores (os direitos e os errados), remetendo ao que justamente a ONU, quando da sua criação, combateu e que deixou o mundo todo ogerizado, a eugenia, só que agora não mais étnica, mas sim no que tange a moralidade dos padrões atualmente impostos.

Essas pessoas que assim criticam as entidades ligadas aos Direitos Humanos e os próprios direitos em si, muitas vezes se esquecem, que esses aos quais eles chamam de “não direitos” não tiveram os mesmos direitos que eles ao nascer, como estabelece o artigo 1º da declaração (“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”). É simplista e superficial demais atacar as conseqüências sem ao menos buscar conhecer as causas, ignorando-as.

Os direitos humanos existem sim, e eles só foram universalmente declarados depois de o mundo ter presenciado os horrores que duas guerras mundiais trouxeram ao mundo, sem contar as divulgações que englobam o subdesenvolvimento, a fome e a miséria, principalmente no continente africano, mas também nos países pobres da América Latina e Ásia. É um ato tão nefasto querer restringir esses direitos a apenas algumas pessoas “direitas”, quanto foram os atos que fizeram com que o mundo acordasse de seu transe bélico para pensar o ser humano e a sua vida no mundo.
É um retrocesso, mas infelizmente as pessoas que proferem absurdos como estes mal têm a consciência do que representa tal ato e o que representa para a humanidade a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Sessenta anos depois

Sessenta anos depois de ser lançada, a Declaração Universal dos Direitos Humanos continua atual. E assim o é por um motivo muito simples: o texto, que defende um mundo em que todos terão o direito de comer, liberdade para se expressar e outros direitos básicos respeitados, continua sendo uma utopia.
Avanços houveram, mas ainda longe da pretensão inicial da carta de ser algo universal.

Em uma reunião com jornalistas em Genebra, na Suíça, nesta semana, Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e ex-alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, provocou os presentes, questionando: "Por que, 60 anos depois, fracassamos em evitar genocídios? Por que, 60 anos depois, não conseguimos mudar dramaticamente as circunstâncias das mulheres ou seguir o artigo 1º, que diz que todos os seres humanos nascem iguais e livres na dignidade e nos direitos?"

É algo realmente preocupante quando pessoas ditas bem informadas e inteligentes preocupam-se com restrição dos direitos à apenas algumas pessoas enquanto no mundo ainda ocorram genocídios, como em Darfur, Palestina, Guerras do Afeganistão e Iraque e ainda existam instituições, como a prisão Guantánamo, que descumpram e firam sem o menor pudor leis e acordos sancionados pela maioria das nações visando justamente o respeito a esses direitos.

Será que o homem depende de ver o horror aos seus olhos a todo instante para pôr a mão na consciência e ter ao menos algum resquício de altruísmo para valorizar e lutar por direitos já expressos, mas não respeitados?
Será que precisaremos de outra Guerra Mundial para que o mundo realmente se engaje em universalizar esses direitos?

"O mundo é perigoso não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa daqueles que vêem e deixam o mal ser feito" (Albert Einstein)


Link para o texto na íntegra da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Jornalismo Econômico e a Economia Real

Ao assistir qualquer noticiário da televisão ou rádio nesses últimos meses, um tema tem se destacado em importância no que é noticiado: a crise econômica sem precedentes que estamos vivendo!

Não quero falar sobre a crise em si, mas como ela está sendo tratada, noticiada e vista pelos nossos jornalistas.

Primeiramente gostaria de esclarecer alguns conceitos e correntes econômicas que existem, apesar de a nossa imprensa só dar ouvidos a uma única forma e corrente de pensamento, que é a Neoclássica.

A corrente Neoclássica é a base teórica da economia da maioria dos países e é também o que potencializou essa crise. Seus preceitos básicos confundem-se com os preceitos do neoliberalismo político, ou seja, é a vertente econômica do neoliberalismo. Seus defensores apóiam o Estado minimalista, não intervencionista onde os governos só existem para estar a serviço das forças e grupos economicamente hegemônicos da sociedade. Defendem que a própria oferta é capaz de criar demanda a ela (o que deixa os especuladores livres para investirem onde bem entenderem, pouco se preocupando com as reais necessidades de investimento de um país) e o que considero hoje (a beira de uma recessão) crucial para entender alguns dos motivos dessa crise é o fato de esta linha de pensamento econômico ignorar que a economia financeira (mercado de ações/bolsas de valores) interfere na economia real nossa do dia-a-dia.
Se tudo isso que pregam os neoclássicos fosse verdade não estaríamos vivendo numa crise e à beira de uma recessão mundial. O mundo seria perfeito, às mil maravilhas...

Felizmente para uns e infelizmente para outros o mundo e as coisas não são bem assim.

A corrente oposta à Neoclássica é o que podemos chamar de Estruturalismo, que tem entre suas vertentes principais o Keynesianismo (aquele que o único capaz de resgatar o mundo da crise de 29 e a grande depressão subseqüente).
Em linhas mestras essa corrente defende a tendência de crises do capitalismo, ou seja, as crises cíclicas e como única maneira de conter ou amenizar os efeitos dessa tendência o intervencionismo Estatal nas economias. Essa tendência à crise, é algo impossível de se negar, pois se formos estudar a história do capitalismo, esta se confundirá com a história das crises do capitalismo, o que automaticamente já prova a teoria de crises cíclicas.
Outro ponto defendido pelo estruturalismo Keynesiano é o da contaminação da economia real pela economia financeira. Isso se vê facilmente no dia-a-dia. Exemplificando: basta a cotação do petróleo subir na bolsa de valores (de forma especulativa) que automaticamente temos o aumento no preço dos seus derivados na economia real. A especulação da economia financeira tem reflexos claros na economia real nossa do dia-a-dia.
O Estruturalismo Keynesiano também defende que a oferta não cria demanda e sim o contrário e o fato de se acreditar na possibilidade neoclássica leva a descompensamentos produtivos, onde não se investe na produção das reais necessidades de um país, o que acarreta a inflação de produtos essenciais.

Agora porque somente é dado voz à visão neoclássica da economia por parte da nossa imprensa e porque os economistas trabalham com essa visão em detrimento da visão estruturalista que é mais sensata?

Fácil entender.
Para uma pessoa que vive da especulação financeira seria praticamente suicido trabalhar com a possibilidade de estar à beira de uma crise a cada momento. O mercado ficaria sempre em pânico e a especulação não alçaria vôos tão altos como alça atualmente. Então essas pessoas preferem fazer de conta que nada disso existe ou é verdadeiro para poder conseguir ganhos rápidos e fáceis e se porventura estourar uma crise (o que é normal que aconteça) os Estados e governos é que devem ser responsabilizados, não eles os verdadeiros agentes e causadores da crise.

Já o fato de a imprensa só da voz a essa visão, ocorre por ter ela estreitas ligações com toda essa economia financeira e principalmente para não veiculando essa outra visão da realidade, fazer a sua parte de tentar manter as coisas como estão, ajudando assim os seus parceiros do mercado financeiro que são também os seus patrocinadores. Ou seja: uma mão lava a outra.

Quanto à crise em si:
O mundo não vai acabar!
Essa crise só é mais uma das crises cíclicas do capitalismo, só que em proporções maiores pela “perspicácia” dos nossos especuladores financeiros e sua avidez por lucros, que fizeram dos mercados financeiros verdadeiros cassinos, ignorando as conseqüências disto para a economia mundial.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Eleições: Mais do Mesmo

E mais uma eleição se dá e findo o 1º turno, com a definição dos legislativos municipais mais uma vez vemos o “mais do mesmo”. Mais uma vez são eleitos candidatos sem nenhum preparo, sem um mínimo de conhecimento político ou propostas bem definidas. Mais uma vez o absurdo se repete, mais uma vez pessoas oportunistas se instalam nas brechas do nosso sistema político para garantir uma “boquinha” na política, e no local preferido deles: o legislativo.

Poucas pessoas têm a consciência das atribuições de um vereador, não por culpa própria, mas por falta de acesso a essas informações. Infelizmente muito pouco é divulgado sobre atribuições. Só vemos serem noticiados os escândalos, pois vendem jornal e dão ibope.
Culpar a população pelo absurdo de eleger o candidato X ou Y é cair na mesmice e cruzar os braços perante ela. Não ajo e espero nunca agir assim. É preciso procurar entender o por que isso ocorre e agir para que não ocorra novamente!

A excessiva permissividade dos partidos políticos à aceitação de candidaturas esdrúxulas (para dizer o mínimo) é, em grande medida, o que leva a ocorrer estes absurdos.
Por que não exigir um mínimo de conhecimento da prática política do candidato?
Por que os partidos não selecionam melhor os seus candidatos e deixam que a população “escolha” de acordo com a maior, ou melhor, publicidade que o candidato tiver?
Quem ganha com isso? A população os partidos ou os pára-quedistas eleitos? Suponho que só os dois últimos!

Na lógica do absurdo, basta ser público ou conhecido por qualquer atividade, que invariavelmente não é política, para ser candidato e deixar que o marketing político faça o resto.

Até quando esses oportunistas e seus asseclas (os partidos) continuarão ludibriando a população?

A população não é culpada e sim vítima da nossa “perfeitíssima” e “infalível” democracia!

Agora o que esperar dos próximos quatro anos de legislatura municipal com tantos “pára-quedistas” ocupando cargos para os quais não tem o mínimo preparo e conhecimento de prática?

Lamentar ou lutar para evitar que isso volte a acontecer?
Lamentar é conformismo e não leva a nada (ou leva a piorar a situação).
Lutar é ação e leva à melhora, ao aperfeiçoamento. É difícil, mas não impossível!

E você que também se sente inconformado com o que acontece na vida política da sua cidade, estado e país vai ficar aí parado lamentando e chorando pelo leite derramado?
Não seja conivente com o absurdo, lute, exija, batalhe, acredite e principalmente cobre!

domingo, 28 de setembro de 2008

Democracia brasileira: Sui generis

Muito se fala sobre a conquista do direito de voto alcançado pelos que lutaram contra a ditadura e pró-diretas já. Mas será que a democracia que eles sonharam é a que se realiza atualmente no Brasil?

Temos um sistema eleitoral idiotizante e antidemocrático, onde numa eleição basta ser conhecido ou “famoso” para pleitear um cargo ao invés de ser exigido um mínimo de conhecimento e competência na prática política.

Pela quantidade de candidatos que temos torna-se impossível um debate amplo (democrático) e a comparação de propostas (principalmente no que tange os cargos legislativos) durante a campanha eleitoral. Não só o modelo eleitoral está errado como os partidos também o estão, por permitirem certas candidaturas que beiram o ridículo (quando não são ridículos por inteiro), além tomarem o tempo de algum candidato sério que ouse querer expor suas propostas.
Não se trata de limitar ou cercear candidaturas, mas seria sensato selecionar para aumentar o nível das propagandas e dos debates.

Quanto à escolha “democrática” em si, nós eleitores nos vemos como num cassino, pois não raro, muitos votam num candidato (principalmente no segundo turno) em que identificam como o “menos pior” ou então (o que é pior) “para o outro não ganhar”.
Ora, partindo-se do princípio que a democracia é a forma de governo que prioriza a representatibilidade, que representantes teremos ao eleger um candidato embasado nessa lógica burra e absurda? Sinceramente não me sinto representado!

O segundo turno, no meu ponto de vista, talvez seja o caso mais nefasto existente na nossa “peculiar” democracia.
Ocorre uma verdadeira venda de apoios e coligações em que a moeda de troca é invariavelmente cargos ministeriais ou secretarias do candidato então eleito. Trocando em miúdos, troca-se apoio na eleição por cargos dados não ao mais capacitado nem ao que o partido ou a pessoa eleita deposite maior confiança, mas aos senhores sanguessugas do Estado que melhor tiverem lábia para consegui-lo.
Perde-se em competência e capacidade administrativa e o que é pior, integridade do programa partidário, pois nesses moldes sempre teremos na composição do governo indesejados intrusos provenientes de acordos escusos.
Não podemos simplesmente acabar com o segundo turno, pois nenhum candidato ao executivo pode ser eleito com menos de 50% mais um voto, mas é totalmente viável a proibição de tais alianças ou o impedimento que afiliados de outros partidos que não o situacionista ocupem tais cargos.

Saídas?

Primeiro a reforma política (que é prioridade de todo presidente, senador e deputado federal quando se elege), que não sai do papel pelo fato de o “status quo” estar perfeito para a reprodução das incompetências, mentiras, roubos e outras atividades ilícitas que os nossos representantes tanto gostam.
Não vejo meio de essa reforma sair se não por uma pressão pública (não só nas eleições), em que têm importância crucial a imprensa (que só se interessa pelos factóides e imediatismos da nossa vida política em prejuízo do longo prazo e do que realmente importa) como catalisadora do processo.
Infelizmente não vivemos mais num país onde alguns setores sociais são politizados. Hoje impera a ignorância, o descaso e o vil analfabetismo político. “Por culpa dos políticos” diz a unanimidade em coro, mas como já dizia Nelson Rodrigues “Toda unanimidade é burra”, pois quem elege e depois não cobra, não acompanha ou faz vista grossa para ações ímprobas são os eleitores.

Saudade do país das passeatas, das manifestações, dos caras pintadas e da juventude engajada!

Outra medida salutar seria a extinção do voto obrigatório que faria com que os candidatos elevassem o nível das discussões e da campanha, debatendo propostas e não tanto a pessoa do candidato concorrente. Eles se veriam na necessidade de ter que realmente convencer o cidadão que vale a pena votar.

Finalmente a falta de senso crítico e de análise do brasileiro, somado ao seu baixo desenvolvimento intelectual, fazem de nós meros títires nas mãos de uma imprensa inescrupulosa e mais interessada no bem privado que no público que, em consequência disso, molda os seus ávidos consumidores de acordo com os preceitos que lhes interessam.
Portanto educar é preciso, formar cidadãos através de uma educação pública, abrangente e de qualidade é preciso.

Seria essa a democracia que os seus heróis queriam?