quarta-feira, 14 de maio de 2008

O ABC da greve, 30 anos depois


Ao revisitar o berço de sua trajetória política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou que ainda custa a acreditar que chegou ao Palácio do Planalto. "De vez em quando fico em casa deitado, olhando para o teto, e me pergunto: será que é verdade que sou presidente da República?", nas comemorações de 30 anos da greve que levou 3 mil metalúrgicos a cruzarem os braços na fábrica da Scania, em 12 de maio de 1978.

De volta ao mesmo salão do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em que convocou tantas assembléias do movimento grevista no final dos anos 70 e começo dos anos 80, Lula disse que faria o possível para evitar que o momento fosse transformado em uma "noite da nostalgia". A tentativa não surtiu efeito. "Voltar a São Bernardo 30 anos depois da greve da Scania é uma coisa emocionante, é uma volta ao passado", reconheceu. Quem olhava da platéia via de fato um Lula bem diferente do dirigente sindical que ia para a porta das fábricas. Vestindo terno e gravata, com a barba grisalha impecavelmente aparada, Lula preferiu entrar no salão do evento somente após encerrada a primeira etapa da comemoração: a projeção do documentário Linha de Montagem, do cineasta Renato Tapajós, produzido no início dos anos 80 para narrar as greves protagonizadas pelo hoje presidente e por seus colegas de sindicato.

Introduzido como "companheiro Luiz Inácio Lula da Silva", ele disse ver no ato de ontem uma lembrança de onde tudo começou. Na época, o hoje presidente liderava as negociações do movimento grevista que começou na Scania e se estendeu por outras fábricas do ABC. Antes de pedir a volta de todos ao trabalho, teve a promessa de que ninguém seria demitido por 120 dias. O acordo não foi cumprido. "A greve da Scania foi a primeira grande lição que tive na vida, a lição de você fazer um acordo e não ser cumprido. A lição de você ser acusado de traição", lembrou. "Para os trabalhadores da Scania, tínhamos feito uma traição imperdoável". Aqueles, segundo Lula, foram "dias malditos".

Para o hoje presidente, o maior ganho do movimento grevista daquela época não foi o aumento salarial ou melhores condições de trabalho, mas sim o surgimento de uma consciência política entre os trabalhadores.
(Fonte: O estado de São Paulo)

***

Trinta anos se passaram e uma questão que considero relevante é: Até que ponto os ideais e os projetos políticos daqueles sindicalistas ainda sobrevivem nos políticos em que eles se transformaram? Os sonhos, as aspirações que tinham na época, será que se acomodaram ao poder?

Nenhum comentário: